quarta-feira, 7 de março de 2012

Continuo a mesma.
Continuo com as mesmas páginas do velho diário na gaveta.
Continuo na mesma casa, que mais parece um bosque e um quarto que mais parece um labirinto de mim. Continuo com a mesma janela que dorme aberta.
Continuo com o mesmo nome, o mesmo sobrenome, RG, CPF e Título de Eleitor.
Continuo com o mesmo celular, o mesmo número de sapato.
Continuo com o mesmo jeito direto que assusta algumas pessoas.
Continuo a mesma boba que sorri por nada. Que faz bico quando chora.
Continuo com o mesmo jeito nada tímido e meio tímido de falar com as pessoas.
Continuo com a mesma cautela. Com o mistério que nem sempre é segredo.
Continuo com um exagero abusado e um drama para achar graça. Continuo falando bobagens.
Continuo acreditando nos amores. Continuo quebrando a cara. Continuo brincando de ser feliz.
Continuo eternizando letras. Continuo a ser loucamente apaixonada pela chuva.
Continuo com minhas insônias ou sono demais.
Continuo a dormir com dois travesseiros e dois lençois, mesmo que o calor seja imenso, ou então não durmo.
Continuo com minhas defesas, medos, desesperos. Continuo vivendo muito para dentro.
Continuo sem paciência pra fazer social. Vez ou outra dou uma de desentendida.
Continuo crítica, principalmente comigo mesma. Continuo azeda, mas muito doce quando doce.
Continuo do contra. Continuo tomando remédio pra dor nas costas. Continuo séria. Continuo sorriso. Continuo a fazer telefonemas de carinho olhando para o céu, e poemas de amor, olhando pra ele.
Continuo viciada em doces e a achar "UP" o melhor filme.
Continuo a reclamar do calor. E se faz frio, reclamo do frio. Continuo a preferir o inverno.
Continuo fã de sorvete e lasanha. Continuo a me apaixonar todos os dias.
Continuo a sofrer para pisar no chão e deixar a fantasia de lado. Continuo descaradamente sincera e franca. Continuo com umas coragens insanas.
Continuo a irmã mais nova, não importa quanto para os meus irmãos o quanto eu esteja adulta. Continuo a perder a conta de quantos sonhos tenho.
Continuo sendo várias, depende de quem me chama. Continuo brigando pelo meu lugar ao sol. Com quem quer que seja, não importa o preço.
Continuo louca por esmaltes. Continuo a ouvir as músicas de Los Hermanos, Nando Reis e Coldplay, incansavelmente.
Continuo a sorrir dizendo que não tem nada a ver quando algo não me agrada.
Continuo a pensar poesia escutando musica no ônibus. Continuo preferindo andar na janela.
Continuo a me preocupar com as revoltas naturais do mundo. Continuo com o mesmo perfume.
Continuo sedentária, apesar das promessas. Continuo a trocar cinema por filme no sofá debaixo das cobertas.
Continuo lendo muito, mas não tanto quanto gostaria. Continuo a cobrir meu corpo inteiro quando durmo, ou pelo menos os pés.
Continuo odiando filmes de terror e adorando comédias românticas bem melosas.
Continuo obviamente inocente para as maldades do mundo. E chata. E teimosa. E arrogante. Continuo vivendo no mundo da lua, mas obrigada a pisar os terrenos da realidade cruel.
Continuo calada quando muita gente fala ao mesmo tempo.
Continuo essencialmente MPB e Bossa Nova. Continuo sempre com um gloss na minha bolsa.
Continuo a escrever cartas que não mando. Continuo a achar estranho unhas dos pés pintadas de vermelho. Continuo a tomar banho fervendo, mesmo no verão.  Continuo com a letra desenhada, e a achá-lá linda. Continuo a procurar erros de português em todos os cantos.
Continuo a me sentir nua sem escova. Continuo sarcástica. Continuo ótima ouvinte.
Continuo sensível demais. Continuo insensível demais.
Continuo achando sábado o melhor dia da semana. Continuo acumulando leituras indicadas.
Continuo a achar que chuva forte é aplauso.
Continuo com inveja das pessoas que gostam e aguentam horas a fio em festas e boates, eu continuo caseira e continuo amando quick de morango.
Continuo a ganhar o dia quando me dizem que andei emagrecendo.
Continuo a não usar batom. Continuo a achar nos livros uma saída.
Continuo preferindo vestidos, mas visto mais roupa que não gosto, por exigência da sociedade e da profissão.
Continuo clichê. E me rendendo a algumas convenções sociais.
Continuo a achar abacaxi a fruta mais gostosa desse mundo.
Continuo apaixonada por flores.
Continuo achando que preciso usar protetor solar. Continuo com preconceito musical, mesmo sendo bastante eclética.
Continuo com preguiça de gente. Continuo com saudades imensas de um lugar que ainda não conheço. Continuo a sorrir quando vejo fotos antigas que trazem de volta momentos bons que não voltam.
Continuo a sentar na sombra e sentir o vento. Continuo a me tranquilizar quando a chuva cai lá fora. Continuo na minha sozinhez, mesmo acompanhada.
Continuo a brigar com minha escolha profissional e a amar o que faço e onde trabalho, mas ainda hei de ser rica e bem-sucedida longe dali.
Continuo a amar loucamente minha filha e meu filho que ainda vão nascer um dia.
Continuo a me sentir importante pra minha cachorra, e amando ela cada dia mais.
Continuo a querer ser pedida em casamento todos os dias.
Continuo a achar que catchup, maionese e sushi são invenções não muito dignas.
Continuo espiritualizada. Continuo a ver a presença da força divina em tudo que vivencio, de uma forma ou de outra.
Continuo a não ser mulherzinha e a adorar coisas de mulherzinha.
Continuo tendo amigas distantes.
Continuo contraditória. Continuo guardando tudo pra mim. Continuo a ter crises de enxaqueca durante implosões.
Continuo a tirar o esmalte com os dentes deixando o chão cheio de pontinhos vermelhos, quando ansiosa. Ando mais solta mas Continuo me sentindo presa.
Continuo amante de praias. Continuo me sentindo muito bem em frente ao mar, continuo gostando de olhar pro mar como gosto de pouca coisa nessa vida.
Continuo fazendo planos de viajar muito. Continuo achando que sair sem destino certo e sem hora pra voltar é o melhor programa do mundo.
Continuo descabelada quando acordo. Continuo difícil de entender. E fácil de dobrar. Ou o contrário. Continuo dormindo com o som do celular ligado e agarrada ao travesseiro. Ou a tv ligada, pra espantar o medo do escuro. Continuo a contar meus amigos nos dedos da mão.
Continuo com doses de melancolia.
Continuo a voar para dentro das pessoas quando vejo pedacinhos meus por lá.
Continuo sendo apaixonada por simplicidade e tendo uma fé inabalável.
Continuo a chorar de repente, e assim ver o choro me aliviar. E depois planto sorrisos.
Continuo a me gastar de maneiras lindas. E a contabilizar meus pedaços assim, todo dia e a cada fim de mês.
No mundo que eu escolhi para meu. Que me recebeu, com suas dádivas e dores. E toda essa promessa de vida. E vários corações.

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